N?o importa quando, ou quanto tempo ainda terei. O que farei em cada segundo até lá é que mostrará quem sou.
1
Allenda ficou confusa quando sentiu que algo a impedia de caminhar. Virou-se para a comitiva e viu suas bocas se movendo, suas m?os se batendo contra algo invisível. Até mesmo o poderoso mapinguari parecia ter dificuldade em entender o que acontecia. Apenas PisaManso estava calmo, observando a estranheza do que acontecia. Foi ele, PisaManso, que chamou sua aten??o para algo que crescia à suas costas.
Ao se virar o panico a tomou. Toda sua confian?a se foi nas garras do dem?nio. Com uma explos?o ela se incendiou, o que foi totalmente ignorado pelo dem?nio, que apenas a observava, indiferente às suas tentativas de se safar.
- Ent?o é você que ele vê sempre que fecha os olhos... Vejo isso, vejo isso... Esse sentimento bobo e infantil de curumins ébrios na floresta. é uma outra forma de se tornarem fracos, se mostrando prontos para o abate – cismou observando-a com interesse.
Allenda gritou quando a press?o se tornou maior.
- Você é um dem?nio nojento e covarde – gemeu, – que colhe as vítimas de surpresa e n?o as enfrenta diretamente. Como você é fraco...
O dem?nio a olhou com desprezo. Com um simples movimento a lan?ou a alguns metros de distancia, liberando-a da for?a que a imobilizava.
- Fa?a o seu melhor, porque n?o sobreviverá ao dia de hoje. Você é a fraqueza do meu neto, é o que o impede de ser o que deveria ter sido desde o come?o...
Allenda se levantou e encarou o dem?nio. Ignorando a dor que sentia se poderou, se preparando para o combate.
Allenda se virou, os olhos em despedida para o grupo que lutava para vencer o que a desafiava, quando viu PisaManso girar o corpo e, estranhamente, surgir ao seu lado. Ent?o, rapidamente, ao seu lado também surgiu Ybynété, encarando o dem?nio.
- Que bom... Agora vai ser bem mais interessante, apesar de ainda ser pouco. Acho que devemos melhorar suas chances... O que acha, menina?
Ent?o o que bloqueava os outros se desfez, e toda a comitiva avan?ou e se postou ao lado de Allenda.
Havia um silêncio perigoso ali, que logo foi quebrado pelo dem?nio.
> Aqui morre a comitiva que pretendia grandes coisas – riu satisfeito. – Fracos que s?o, ruinas que ficam pelo caminho...
Quando se preparava para atacar, repentinamente o dem?nio sorriu enquanto se virava para a direita. Allenda, apesar de toda a dor que sentia do lado do corpo, viu que havia um vulto que desabara bem próximo e se levantava lentamente, atento, desafiador.
Era um ser de tamanho normal, mas feito de neblinas revoltas onde, na simula??o do rosto, dois olhos ardiam como brasas.
Era Uivo que estava ali, sabia. Tentou dizer algo, mas nada saia. Estava atordoada, e nenhuma resistência op?s quando foi arrastada por Adanu para uma distancia que julgaram segura, de onde podiam ver o que se seguiria.
Allenda vergava o corpo em dire??o aos dois dem?nios. Sentia que algo terrível estava para acontecer.
- Acha que está finalmente preparado para se bater comigo? – ouviu o dem?nio debochar. – Se n?o fossem aqueles dois que me atacaram de surpresa, você já teria se dissolvido no ar, n?o é mesmo? Eles já sabem que você já tinha aceitado a morte? – riu satisfeito. – Uma pena os dois que te salvaram n?o estarem aqui, n?o é mesmo? E lá est?o eles, protegendo algo que terei prazer em cuidar mais tarde...
Allenda sentiu uma dor no peito, ao saber que Uivo quase for a morto. E o ser que quase conseguira isso estava ali, outra vez, e agora os dois que o haviam salvado estavam enganados em outro lugar.
Tomada de urgência Allenda, vendo o enorme risco que Uivo corria, se poderava quando Uivo, sem qualquer aviso, numa explos?o atacou o dem?nio.
Borr?es indistintos se formaram enquanto se atacavam.
Ent?o, num baque surdo, os dois se separaram e ficaram se estudando de uma curta distancia.
> Você é fraco demais... Acho que, finalmente, hoje será o seu fim. A fraqueza é deplorável demais... – sibilou o velho dem?nio. – Mas, talvez você queira que eu te deixe com um pouco de vida, para me ver acabar com esse bando medíocre e me ver me fartar com essa menina?
Allenda se assustou quando Uivo foi crescendo e se vestindo de nuvens mais escuras. Era nítido como o ar mudava, tornando-se sombrio, tornando-se triste e amea?ador.
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Agora podia sentir um tremendo ódio crescendo ali, mesclado de um desprezo terrível por tudo. Sua tristeza aumentou quando acreditou que ele estava se aceitando perder, até que ele se virou e a olhou por um espa?o muito pequeno de tempo, um olhar carinhoso, antes que atacasse o velho dem?nio e, num estampido, sumissem no céu tenebroso.
Allenda deu um grito dolorido, se agitando, querendo correr para onde os vira desaparecer.
- Calma, filha, calma... – pediu Adanu, soltando-a.
Vendo-se livre Allenda correu para o lugar onde eles tinham estado. Os olhos se voltaram para cima, procurando, se lamentando por ter permitido que alguém lutasse suas batalhas, por se permitir pensar que poderia perder Uivo.
- A batalha era minha, pai... – gemeu desesperada ao ver que Adanu estava ao seu lado.
- Sabe que n?o era... A batalha sempre foi de Uivo. Foi por causa dele que o dem?nio te buscou.
- Mas, ele quer matar o Uivo – sofreu, os olhos presos no céu, seu cora??o tremendo com cada som terrível que ouvia na distancia, como de rochas se partindo e montanhas sendo destruídas.
II
Uivo o lan?ou longe antes que tocassem o solo.
Descontrolado se abateu contra o solo pedregoso, enquanto ouvia o impacto do dem?nio na face da montanha.
Com tranquilidade aguardou a aproxima??o do av?, que vinha flutuando pelo ar como uma nuvem estirada e esfiapada. Assim que se aproximou o suficiente a nuvem baixou e o dem?nio tomou forma à sua frente.
- Se preocupar com outros é fraqueza... N?o enxerga isso? Você precisa se livrar disso para se tornar o que deve ser.
- E você se livrou disso?
O dem?nio o olhou confuso e irritado.
- Eu??? Desprezo tudo o que vive, porque n?o reúnem o poder para merecerem a vida.
- Isso n?o é uma verdade. Quando foi atrás de sua filha, o foi por um motivo, um sentimento, sen?o a teria ignorado e deixado ao seu próprio destino. Quando n?o me denunciou para o sombra que eu estava na cova das cobras, porque sei que era o único que poderia tê-lo feito, o fez por um motivo. E quando se preocupa em que eu seja igual a você, ent?o mostra um sentimento que n?o gostaria que existisse, n?o é mesmo? Sabemos que é um sentimento podre e ruim, mas é um sentimento. Você sente isso, e isso o incomoda.
- Você está enganado... – riu o dem?nio.
Nem bem terminara a frase avan?ou violentamente contra Uivo.
Uivo apenas se encolheu e deixou o dem?nio passar.
- Sabe, av?... – falou se virando para encará-lo, - aprendi algumas coisas sobre mim... Ainda é difícil controlar o ódio e o desprezo herdados, mas estou ficando bom nisso. Posso deixá-los surgir sob controle, como posso mudar... E sabe de uma outra coisa? N?o preciso me alimentar do terror e do medo. Há algo maior, um alimento mais nobre... Minha m?e descobriu isso...
- Sua natureza n?o pode ser alterada, imbecil. Você n?o merece ter o que tem...
O velho dem?nio avan?ou novamente contra Uivo, que apenas aguardou.
O impacto foi t?o violento que os dois se chocaram com fragor contra a montanha. O dem?nio se preparava para destruir Uivo quando o que julgava ser seu prisioneiro come?ou a mudar. Sons cristalinos e luzes foram tomando todo o espa?o à volta, que lhe causaram dor e confus?o.
Chocado e confuso soltou-se de Uivo e come?ou a se afastar. Quando estava à curta distancia, procurando se recompor, algo o atingiu com uma for?a terrível.
Incrédulo sentiu algo crescendo dentro de si. Era uma dor nunca experimentada, que julgara que nunca poderia ser criada para atingir alguém como ele. Mas ali ela estava, exigindo sua aten??o, exigindo que procurasse, a qualquer custo, se afastar dela.
Numa explos?o de revolta usou todo seu poder e conseguiu se safar.
Devagar foi tomando consciência novamente do mundo, e o que viu o deixou chocado. Uivo estava à sua frente, tranquilo, observando-o, totalmente despoderado. Ele se mostrava ferido, com vários cortes que lentamente iam se fechando. Mas estava ali, à sua frente, postado tranquilo, em paz.
Ent?o olhou para si e viu ferimentos que nunca julgara que poderia ter, desde que vira a execu??o da filha.
- Como conseguiu isso?
- Em todo mal, um bem; em todo bem, um mal... Eu escolhi meu lado. O mal que há em mim, posso decidir quando usar. E isso porque ele n?o está subjugado, mas sim, porque faz parte do que sou.
O velho dem?nio se levantou, totalmente recomposto.
Devagar se aproximou de Uivo, e Uivo pode ver dentro da escurid?o um humano de rosto duro e pesado, de corpo rijo e andar majestoso.
- N?o era o que pretendia que escolhesse, mas fez sua escolha. Com isso eu posso viver...
E dito isto, sem qualquer aviso, o velho dem?nio se desfez no ar.
Uivo ficou um bom tempo ali, flutuando, observando distraído o azul profundo onde o seu av? desaparecera. O ar parecia melhorado, mais limpo. Com curiosidade examinou as sombras das m?os e dos bra?os, e viu que n?o havia mais diferen?a entre dem?nio ou pumacaya, dependendo de como se focasse. N?o havia, na verdade, o Uivo, como n?o havia o pumacaya e nem o dem?nio, n?o como entes separados. Era apenas ele, ali.
Ent?o se lembrou da energia de que precisava para se manter na energia escura, e apenas viu indigna??o contra um ato ruim, ou uma determina??o ferrenha em defender o que acreditasse justo ou...
Como se fosse uma explos?o sentiu que seu mundo se reconhecia e crescia. N?o era o ódio à vida e aos seres, n?o era o medo e a indiferen?a que o mantinham, mas era, simplesmente, o amor à vida e ao que acreditava certo. Com um sorriso esgar?ado expandiu-se e se sentiu bem consigo mesmo. Voltando os olhos para baixo, bem longe para o leste, viu a comitiva, e viu a energia dolorida e preocupada de Allenda.
Ent?o, apenas pela vontade surgiu no céu, bem acima da comitiva. Com tranquilidade foi descendo suave, tocando o solo ao lado de Allenda, no meio da comitiva.
Como dem?nio diminuiu sua altura.
De ímpeto Allenda se adiantou e se abra?ou nele, um solu?o contido percorrendo seu corpo.
Uivo, com muita suavidade a abra?ou, permanecendo em silencio ante todos.
Uivo afastou um pouco o rosto, os olhos nos dela presos.
- Esse sou eu, Allenda. E com a voz sexy – sorriu naquela cara estranha.
Allenda o olhou surpresa, e abanando a cabe?a enquanto solu?ava, se abandonou em seu abra?o.
> Eu amo você, Allenda – sussurrou.
- Ent?o nada mais de pumacaya? – ela perguntou num fio de voz, se apertando um pouco mais contra ele. – E nem mais só o dem?nio?
- Só quando eu assim quiser. Mas, essa agora é minha forma.
- E quanto ao seu av??
- Ele se foi. Tenho certeza de que agora vai nos deixar em paz, e isso porque aceitou a minha decis?o. Ao menos por enquanto – sorriu satisfeito.
O anjo suspirou satisfeito, voltando sua aten??o para Miguel e para os outros dois, ao seu lado.
- Foi uma vitória e tanto, a do nosso amiguinho ali, n?o foi? – sorriu feliz.
Miguel viu toda a luz da comitiva abaixo, as auras se revolvendo suaves. Lan?ou a aten??o um pouco para o oeste, onde ficou atento à uma aura escura e pesada e, até mesmo, um tanto satisfeita, que se afastava.
- Sim, realmente, essa é uma vitória e tanto...