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A FORÇA DE ALLENDA E NOVOS NOMES

  Ninguém é bom sozinho...

  Uivo se manteve em silêncio, recolhido dentro de sua mente. Muita coisa havia acontecido em um tempo relativamente curto. As revela??es sobre as antigas guerras, sobre o abandono dos exércitos sobre as montanhas, sobre as coris-negras, sobre os semnome e as miss?es reais, muitas delas que haviam desempenhado em total ignorancia. Muitos segredos ciosamente mantidos sob sombra calculada, cismou. Ent?o reviu a voz de Adanu enquanto lhes revelava esses segredos; havia um tom de despedida, como uma tentativa desesperada em revelar coisas ocultas urgentemente, impedindo que elas se fossem com seu portador.

  Devagar reviu os rostos de cada um da comitiva que a tudo ouvia, sobre a guerra e, finalmente, sobre as coris-negras, os entes em forma de pássaros que podiam observar as almas, e sobre elas proferir julgamentos e senten?as.

  Mais aten??o prestou às imagens de sua memória quando observou Allenda, vendo a tristeza silenciosa que boiava em seus olhos enquanto seu pai falava sobre essas coisas. Era claro que ela sabia, como todos da comitiva, que ele estava se preparando para partir.

  Com um suspiro cheio de expectativas Uivo levantou os olhos para a floresta fechada, examinando os troncos e as ramagens, se perguntando se as coris-negras estariam por ali, observando-os, avaliando suas almas.

  Devagar, distraidamente se encaminhou para uma face da escarpa. Ia contornar pelo Sul quando ouviu algo à sua direita.

  Uivo parou o movimento, pego de surpresa. Em total silêncio viu Allenda totalmente imóvel, em uma emboscada. Sem fazer qualquer barulho agachou e ficou observando. Os minutos foram rápidos.

  Primeiro viu dois mantas surgindo da linha de pedras, logo seguidos por dois coloridos, todos ignorantes tanto da presen?a dele quanto da presen?a de Allenda.

  Tomado de apreens?o a viu, subitamente abandonar a tocaia. Ela simplesmente se mostrou no caminho e avan?ou em grande velocidade, atacando os mantas e os coloridos.

  Uivo até retesou os músculos, se preparando para intervir. Mas havia algo ali, ele sentiu. Ent?o recuou e ficou observando Allenda, pensativo.

  O movimento dela foi como um corisco. Com um golpe seco segurou os dois coloridos pela garganta e, de súbito, incandesceu as m?os e queimou suas gargantas, sem que houvesse qualquer chance de rea??o por parte deles.

  Quando os dois mantas viram que os dois coloridos estavam mortos era tarde demais. Allenda rasgou um deles com sua faca em brasa, enquanto puxava o outro para baixo e afundava uma seta entre seus olhos.

  Uivo se ocultou no tronco, absorto com o que acabará de ver. Allenda havia dado conta dos inimigos sozinha, sem nem mesmo precisar da ajuda de ArrancaToco.

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  - Ent?o, Allenda, como está indo em suas ca?adas? – perguntou se aproximando assim que o último manta se desfez.

  - Muito bem, Uivo. Por que pergunta? – sorriu, quebrando as cadeiras, o jeito moleca que tanto o fazia sonhar.

  - N?o, só perguntando. Bem, na verdade, eu queria te agradecer.

  - Ora, e por que me agradece?

  - Eu vi sua batalha contra dois coloridos e os dois mantas, e eu notei que nunca precisou de mim. Quero dizer, nunca precisou de minha prote??o, apesar de aceitá-la. Você é uma guerreira formidável. Na verdade, acho que nessa convivência nossa, os maiores ganhos s?o meus.

  - Uivo, Uivo... N?o percebe que ninguém é bom sozinho? – falou se aproximando devagar.

  Uivo sentiu o cora??o bater forte e a respira??o come?ar a faltar. No come?o pensou em tentar controlar sua face vermelha, mas deixou pra lá. Todos sabiam o que ela lhe causava.

  -Eu.... Eu sei.... é que...

  Uivo se esfor?ou em permanecer em pé e ignorar a tremedeira e a fraqueza em suas pernas, quando sentiu os lábios de Allenda tocarem os seus.

  - E me diga – perguntou ela, se afastando, - vejo que continua com certas reservas em se poderar como dem?nio. Já n?o o controla perfeitamente?

  - Na verdade, Allenda, eu n?o controlo o dem?nio, porque esse sou eu, como você mesma disse esses dias. Eu n?o reconhe?o o ódio e o desprezo dele, desprezo a fome de dor e o vício em tortura. Mas sei que sou um dem?nio e isso..., n?o sei como explicar...

  - Uma outra categoria ent?o? – ela sorriu. – Que tal dem?nio consciente?

  - Que tal dem?nio gente boa? – riu Ybynété passando por perto.

  Allenda riu da observa??o do amigo, que apenas falou e passou, satisfeito e feliz.

  - Ou anhanguera? – arriscou Ybytu sentado próximo, mascando uma haste de capim. Allenda riu surpresa, porque nem o notara ali, observando-os. Ent?o, ao olhar ao lado, viu boa parte da comitiva, e todos eles mostravam um sorriso malandro no rosto.

  Uivo sorriu, os olhos passando por Adanu, que a tudo assistia com um belo sorriso na cara grande, um pé acariciando a cabe?a de FuraTerra, que parecia feliz da vida.

  - Acho que n?o... Esse ficou meio ruim – Uivo reclamou.

  - é..., também n?o gostei – riu Ybytu. – O que acha, Itanauara? – Ati?ou.

  Itanauara mirou Uivo atentamente. Acabou sorrindo, enla?ando a cintura de Adanu, que sorriu em paz.

  - Acho que Uivo está muito bom. Me acostumei, tanto para o puma quanto para o dem?nio.

  Uivo sorriu satisfeito.

  - Est?o vendo? Uivo é um bom nome e uma boa defini??o. Obrigado, Itanauara, pela sua sensibilidade.

  - N?o há de que, Uivo – sorriu novamente.

  - Ah, que chato... – reclamou Ybytu. - Achei que ia renovar seu nome... Afinal, você é um pumacaya, e... Na verdade, você n?o é um lobo, nem um dem?nio também. Mas, tudo bem... Ainda assim, acho que gostaria de te chamar de penumbra, ou vento, ou sombrio ou sombra que chuta, sombra dedo no olho ou...

  - Xiiii – agora ele empolgou, resmungou Ybynété pegando-o e lan?ando-o longe, o que fez todo mundo rir, quando Ybytu voltou, todo reclam?o, cheio de pic?o e bem arranhado.

  - Poxa, Ybynété, tinha que me jogar numa moita e unha de gato e pic?o? Chato isso, e maldoso também, grand?o. Mas, voltando ao assunto, Uivo - falou voltando a se sentar, tendo o cuidado de ficar um pouco afastado de Ybynété, - eu estava pensando, que tal Xer-endy, que quer dizer "porque você é a minha luz" – falou piscando um olho para Allenda; - ou Cacira, vespa de ferroada dolorosa, ou Guarini ou guarinim, guerreiro lutador; ou Yami, noite; ou Yawara, on?a escura...

  - Pelo Trov?o – Adanu reclamou alto, dando um sinal para Ybynété.

  - N?o, n?o Ybynété – Ybytu reclamou enquanto o gigante o pegava de novo e o lan?ava no mesmo lugar de antes.

  N?o foi possível n?o rir quando ele saiu do mato, a cara enfezada e mostrando estar dolorido. Sem falar mais nada sentou-se, tirando pic?o do corpo, que lan?ava em Ybynété, que n?o aguentou e o puxou para si num forte abra?o, ignorando suas reclama??es.

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