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Capítulo 3 - Lamparinas apagadas

  Leny estava exatamente como antes. Seus olhos fixos à frente, as rédeas do cavalo nas m?os calejadas, a express?o séria como sempre. Ele parecia imune ao que Nwyn havia experimentado, seu foco total na estrada à frente. O silêncio entre os dois, t?o comum nos dias de viagem, parecia mais denso agora. O garoto n?o sabia o que fazer com o que sentia, nem mesmo sabia se deveria falar sobre isso com Leny. Talvez fosse melhor esquecer. Era fácil se perder na rotina, seguir em frente, sem dar espa?o a dúvidas, o velho até mesmo fingiu que nada havia acontecido agora a pouco, o jovem entrou no jogo.

  O caminho seguia à frente, as árvores espalhadas nas margens da estrada agora mais visíveis, com suas sombras que se alongavam com a luz do entardecer. A paisagem parecia imutável, os campos verdes cortados por pequenos riachos que serpenteavam discretamente pela terra. O vento ainda soprava, mas agora era mais forte, como se quisesse tirar os pensamentos de Nwyn de sua mente.

  A viagem continuou por mais algumas horas. O som das rodas da carro?a se tornou mais monótono, e o ritmo constante do cavalo parecia imitar o batimento de um cora??o distante, imperturbável. O vento havia mudado, trazendo consigo um cheiro mais pesado, uma mistura de terra e de algo urbano, mais distante.

  Nwyn n?o sabia exatamente o que era, mas sentiu uma press?o crescente em seu peito, como se a cidade estivesse se aproximando de maneira inevitável.

  O sol já estava mais baixo, projetando sombras longas sobre a estrada. A paisagem come?ou a se transformar lentamente. A terra, antes árida e sem vida, foi dando lugar a uma constru??o mais organizada. A estrada de terra foi substituída por paralelepípedos rústicos, que formavam um caminho firme e bem definido, como se a cidade estivesse tomando forma ao redor deles. Nwyn observou, com uma sensa??o de inquieta??o, as pedras quadradas e ásperas, dispostas com um padr?o que parecia teimar em manter sua simetria, apesar do desgaste do tempo.

  à medida que avan?avam, o som das rodas batendo nos paralelepípedos se tornou mais agudo, mais firme. E ent?o, ele viu: postes de estanho erguendo-se ao longo da estrada, a cada um quil?metro, dispostos de maneira regular. Suas silhuetas metálicas, enferrujadas e sem vida, se destacavam contra o céu tingido de laranja e púrpura do entardecer. O que mais chamou a aten??o de Nwyn, porém, foram as lamparinas. Elas estavam todas apagadas, sem uma centelha de luz, como se estivessem esquecidas, deixadas para trás por alguém que já n?o se importava mais.

  Lembrou-se das palavras de Garlei, aquelas que ele havia ouvido em uma de suas visitas à fazenda, sentado à beira da fogueira. Ele lhe contara como, antigamente, essas lamparinas eram acesas todas as noites, para guiar os viajantes à Central. O brilho quente da luz, iluminando o caminho, indicava que estavam se aproximando de algo grande. Para os habitantes da cidade, as lamparinas eram uma marca de progresso, um símbolo de acolhimento. Para Nwyn, porém, elas eram mais que isso: Um caminho certeiro.

  "Mas nunca fizeram isso. Nunca completaram o caminho." Pensou o garoto.

  O motivo disso, ele sabia, estava na inimizade silenciosa entre a Central e o Reino de Linteal. O império havia sido o responsável por construir aquela estrada, mas a Central, em um esfor?o para manter sua independência e proteger-se, recusava-se a terminar a obra. A estrada, que deveria ser uma ponte entre as duas regi?es, foi limitada por quest?es de poder e desconfian?a. A ideia de acender as lamparinas até a "estrada real", como chamavam, foi abandonada há muito tempo, tornando aquele trecho da cidade e da estrada algo esquecido, relegado ao abandono pela popula??o.

  à medida que avan?avam pela estrada de paralelepípedos, a paisagem ao redor se adensava, e os primeiros sinais de vida da Central come?aram a se revelar. Quando chegaram ao port?o da cidade, Nwyn viu que estava aberto, o que era um bom sinal. O port?o era grande, feito de ferro forjado, com detalhes intrincados que formavam um padr?o de curvas e linhas entrela?adas. Em ambos os lados, pilares robustos se erguiam, dando à entrada um ar imponente, como se fossem os guardi?es de algo valioso.

  Do lado de dentro, dois guardas estavam posicionados ao lado do port?o. Eram homens fortes, com uniformes simples, mas bem feitos, de cor marrom e cinza. Quando viram a carro?a se aproximando, os guardas levantaram os bra?os em cumprimento.

  – Leny? – Um dos guardas gritou, sorrindo ao reconhecer o velho. – Boa viagem? Como anda a fazenda?

  – Bagun?ada. – Respondeu Leny, com um sorriso cansado. – Fazenda é sempre uma bagun?a. Mas tudo nos conformes. Trouxe umas mercadorias pra vender, o de sempre.

  O outro guarda acenou com a cabe?a e fez um gesto para que passassem. – Vai em frente, o port?o está aberto. Aproveitem o entardecer.

  Com uma última troca de olhares, Leny guiou a carro?a para dentro da cidade, e Nwyn n?o p?de deixar de se impressionar com o que viu. A cidade parecia estar em um estado constante de movimento. Pessoas caminhavam apressadas pelas ruas, com sacolas de compras nas m?os, carregando ferramentas, tecidos e alimentos. As ruas estreitas estavam repletas de comerciantes, vendedores ambulantes e artistas de rua. O som das conversas e negocia??es preenchia o ar, e o cheiro de comida, que vinha de várias tabernas e barracas, se misturava ao cheiro de couro e metal das roupas dos moradores.

  A arquitetura da cidade era uma fus?o de estilos: constru??es de pedra simples, misturadas a edifícios de madeira mais modernos, com grandes janelas abertas para o ar fresco do entardecer. Leny conduzia a carro?a com um ar de familiaridade, enquanto Nwyn observava tudo com aten??o, sentindo a tens?o de estar em um novo lugar.

  à medida que avan?avam pelas ruas movimentadas, Nwyn notou que o clima estava mudando. O entardecer trouxe consigo uma luz suave e dourada, projetando sombras longas e suaves sobre os prédios. A cidade estava se preparando para algo, talvez para a noite que estava prestes a chegar.

  De repente, ele ouviu o som de risadas altas e a batida de um tambor distante, como se a cidade estivesse se aquecendo para uma grande festa. Ele percebeu que a bebida estava sendo servida em muitas das tabernas ao longo da rua. Nwyn soubera disso de Garlei, que lhe contara sobre a política da Central: durante o dia, a venda de bebidas era proibida, para garantir que ninguém trabalhasse bêbado ou incapaz de desempenhar suas fun??es. Mas, quando a noite chegava, as regras se desfaziam. A bebida era liberada, e, mais do que isso, era vendida a pre?os bem mais baixos, com parte do custo coberto pela família Forten, os fundadores da cidade.

  A partir de certa hora, as ruas se enchiam de pessoas conversando, rindo e, muitas vezes, cantando. Havia algo animado no ar, como se o cansa?o de um longo dia de trabalho fosse dissolvido pela energia da noite.

  – Isso que é uma cidade de verdade. – Leny disse, observando a movimenta??o com um olhar experiente e brilhante. – Aqui quem tiver com sorte vai encontrar um bom par de peitos para dormir.

  Nwyn ignorou, olhou para os arredores sentindo-se um pouco deslocado no meio daquela energia frenética. Em uma das tabernas à esquerda, ele viu um grupo de homens e mulheres dan?ando ao som de uma música animada. As lampadas de óleo penduradas nas paredes projetavam uma luz quente e amarelada sobre as figuras em movimento. Lá fora, as barracas estavam se ajustando para as vendas, os comerciantes trocando olhares ansiosos, preparando-se para a agita??o da noite.

  A carro?a seguiu pela rua principal, e Nwyn percebeu que, enquanto Leny parecia imune a tudo aquilo, ele n?o conseguia deixar de se sentir meio que um espectador. Havia algo fascinante na maneira como a cidade se transformava com o cair da noite.

  Eles pararam perto de uma das pra?as, e Leny desceu primeiro, ajeitando seu chapéu e lan?ando um olhar curioso à movimenta??o ao redor. Ele parecia se lembrar do que era necessário fazer, enquanto Nwyn, ao descer, sentiu o cheiro da comida e da bebida se intensificando.

  A movimenta??o nas ruas estava mais densa agora, à medida que o entardecer avan?ava e as primeiras sombras tomavam conta da cidade. Leny dirigiu-se para um pequeno mercado ao lado de uma rua movimentada, onde várias barracas estavam sendo montadas para a noite. O cheiro de carne assada, p?o fresco e especiarias se misturava no ar, quase abafando o odor de suor e poeira das ruas. Em uma das barracas, um comerciante de cabelos grisalhos e barba espessa estava organizando cestos de frutas e legumes. Ele usava um avental manchado de terra e parecia de bom humor, falando com os outros comerciantes ao seu redor, mas ao notar Leny, seu rosto se iluminou.

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  — Olha só quem apareceu! Achei que tinha largado essa cidade de vez. — Disse o homem, rindo enquanto limpava as m?os no avental. — E a fazenda, ainda de pé?

  — Vai indo. Os porcos t?o dando trabalho, mas nada que me derrube. — Leny respondeu, colocando um saco sobre a mesa. — Trouxe umas ferramentas, batatas boas e carne seca. Preciso de um pre?o justo. O comerciante pegou uma das ferramentas, testando o peso na m?o antes de bater o cabo de ferro contra a palma. O som seco ecoou pela pra?a.

  — Hm. Ferramenta velha, Leny. Isso aqui n?o tá fácil de vender.

  — Velha, mas dura mais que qualquer uma nova feita de qualquer jeito por aí. Quem entende, sabe.

  O homem ergueu uma sobrancelha, colocando a ferramenta de volta e cruzando os bra?os.

  — Talvez. Mas tem pouca procura. Vou ser sincero, n?o pago muito por isso.

  Leny suspirou, mas manteve o olhar firme.

  — Tá querendo me dar troco de p?o por um saco cheio. As batatas est?o frescas, a carne seca é das boas. Se fosse outro, já tinha pegado sem reclamar.

  O comerciante balan?ou a cabe?a, fingindo desgosto, mas Leny sabia que ele estava considerando.

  — Vou te pagar o que posso, Leny. N?o tá fácil pra ninguém.

  — Sei bem disso. Mas eu também n?o posso voltar pra casa sem o que preciso. Faz o seguinte: melhora esse pre?o e eu te garanto carne seca exclusiva pelo resto do ano. Melhor negócio que isso, só se você encontrar ouro enterrado na estrada.

  O comerciante co?ou a barba, pensativo. Olhou para a mercadoria mais uma vez, pesando a oferta. Finalmente, soltou um suspiro longo e apontou para o saco de carne seca.

  — Tá bom. Vou te pagar um pouco mais, mas n?o me venha com choradeira na próxima.

  Leny assentiu e pegou as moedas rapidamente, contando com os dedos antes de guardá-las. Nwyn, observando tudo, notou a troca de olhares entre os dois — um entendimento silencioso, o tipo de acordo onde ninguém sai completamente feliz, mas também ninguém perde por inteiro.

  O comerciante acenou, satisfeito com o negócio, enquanto Leny e Nwyn saíam da barraca. A carro?a avan?ava pelas vielas de Central, entrando mais no cora??o da cidade, onde o burburinho das ruas aumentava a cada passo. Leny n?o demorou muito até parar, levantando a rédea do cavalo enquanto olhava para os lados. Observou as casas, as lojas e ent?o, com um olhar fixo, algo chamou sua aten??o. Algumas mulheres estavam paradas na esquina, vestindo roupas provocantes e com olhares que pediam por um cliente.

  Nwyn viu o olhar dele se fixar nelas por um instante. Antes que ele dissesse qualquer coisa, Leny foi direto ao bolso e puxou as moedas que ele havia pegado de Nwyn e que conquistou a mais na negocia??o. Com um sorriso torto e sem a menor cerim?nia, disse:

  – Vou dar uma volta – Leny acenou com a cabe?a para as mulheres, já se afastando e, sem cerim?nia, jogou a bolsa de moedas para Nwyn. – Fica com isso. – O peso da bolsa pegou Nwyn de surpresa, e ele teve que segurá-la firme. Ficou olhando para as moedas na palma da m?o, sentindo um calor subir pelo peito. Queria falar alguma coisa, mas engoliu a raiva.

  Leny nem percebeu. Apenas apontou com o queixo para uma lojinha adiante.

  – Compra o que precisa lá. Bálsamo, ervas... Você sabe. – Sua voz era prática, sem paciência para dúvidas.

  Ele apontou para um pequeno estabelecimento logo adiante, com uma placa peculiar. A loja parecia um pouco diferente das outras — estava rodeada de símbolos estranhos e uma aura meio esotérica. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Leny já estava indo embora, sem se preocupar em dar mais explica??es.

  O garoto empurrou a porta de madeira com for?a, ouvindo o rangido das tábuas antigas. O som de sinos delicados ecoou suavemente, anunciando sua chegada. à medida que ele atravessava o limiar, um movimento rápido de um capuz negro o fez dar um passo atrás. Uma figura alta, com uma capa que cobria todo o seu corpo, passou por ele em um breve esbarr?o. O tecido da capa ro?ou no seu bra?o, e por um instante, o ar se encheu com um cheiro inconfundível, forte e terroso, uma mistura de tabaco queimado com um toque doce de canela. Era uma fragrancia enigmática e estranha, que parecia envolver o ambiente de maneira quase mística, mas Nwyn n?o soubera identificar exatamente o que era. A figura n?o fez um som, nem parecia notar sua presen?a, exceto pelo rápido movimento da cabe?a, que indicava que ela estava apressada. Antes que Nwyn pudesse reagir, a figura se afastou pela porta, desaparecendo na rua com uma rapidez surpreendente.

  Ele ficou parado por um momento, seus sentidos ainda agudos com a presen?a daquele ser. Ele olhou ao redor, tentando se recompor. A loja à sua frente parecia ainda mais peculiar agora, com o cheiro estranho ainda pairando no ar. A porta atrás de si se fechou suavemente, e ele se viu sozinho no pequeno espa?o, rodeado por prateleiras de frascos coloridos, pacotes de ervas secas e objetos antigos. O ambiente era opressor, com uma mistura de aromas doces e terrosos, nada comparado com o cheiro da figura que correu da loja, e os cantos da loja estavam cobertos por cortinas pesadas que bloqueavam a luz do sol, deixando o lugar com uma aura de mistério.

  Nwyn n?o sabia ao certo o que fazer, mas sabia que o balsamo era o que Leny precisava. Com um suspiro, ele se dirigiu até o balc?o, A mulher atrás do balc?o parecia mais velha do que ele esperava, mas sua beleza n?o deixava de ser impressionante. Ela tinha cerca de 50 anos, com cabelos grisalhos levemente ondulados, que caíam suavemente até os ombros. Seus olhos eram de um tom verde, vibrante, e havia uma intensidade neles, como se soubessem mais do que deveriam. Sua pele era macia, mas marcada por algumas linhas finas que contavam histórias de uma vida vivida com garra, embora sua presen?a emanasse uma juventude inegável. O que mais chamou a aten??o de Nwyn, porém, foi o decote ousado, que destacava seus seios volumosos. Uma pinta discreta no lado esquerdo do peito parecia mexer com ele de maneira estranha, como se o encarasse e hipnotizasse ao mesmo tempo.

  Assim que Nwyn entrou, a mulher atrás do balc?o ergueu os olhos e abriu um sorriso acolhedor. Era um sorriso confiante, do tipo que fazia parecer que já o conhecia.

  – Ah, um cliente novo... ou talvez um que vai acabar voltando? – A voz dela tinha um tom leve, quase divertido. – Aposto que veio atrás de algo especial.

  Nwyn hesitou, sem saber o que responder, e acabou apenas balan?ando a cabe?a. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela já estava se aproximando e puxando alguns frascos das prateleiras.

  – Veja isso aqui. – Ela ergueu um pequeno vidro de líquido dourado. – ótimo para manter a pele saudável. Você pode n?o se preocupar com isso agora, mas nunca é cedo demais para come?ar.

  Ele franziu a testa, desconfortável.

  – Eu só preciso de algo para os porcos.

  A mulher inclinou a cabe?a, como se estivesse analisando-o. Ent?o sorriu de novo, sem perder a postura.

  – Ah, entendi. Trabalho duro na fazenda, n?o é? – Guardou o frasco de volta e se virou para outra prateleira. – Bem, nesse caso, acho que o que você procura está aqui...

  Ela pegou um frasco mais simples, com um líquido esverdeado e um cheiro forte de ervas.

  – Isso deve ajudar. Mas já que você está aqui, n?o quer aproveitar a viagem? Aposto que posso te mostrar algo interessante.

  Nwyn apenas estendeu as moedas, sem paciência para conversa.

  Ela aceitou o pagamento sem insistir mais, embora parecesse se divertir com a pressa dele. O pre?o ficou um pouco mais alto do que ele esperava, mas n?o tanto a ponto de discutir. Quando terminou, ele pegou o frasco e se virou para sair—mas ent?o notou algo no canto da loja.

  Uma pequena mesa circular, iluminada pela luz trêmula das velas. Sobre ela, uma caixa de madeira escura, coberta por entalhes que ele n?o reconhecia.

  – Ficou curioso? – A voz dela veio mais suave agora, como se estivesse esperando por essa rea??o.

  Ele n?o respondeu, mas ficou olhando a caixa por mais tempo do que deveria.

  Ela se aproximou com calma, pegou a tampa e a abriu com delicadeza. Dentro, havia uma pequena semente acinzentada, ligeiramente translúcida.

  – Essa semente vem de uma árvore especial. Dizem que conecta tudo. – Ela passou os dedos por ela de leve, como se sentisse algo ali que ele n?o podia ver. – Nem todo mundo sente... mas acho que você sente, n?o sente?

  Nwyn prendeu a respira??o, incapaz de desviar o olhar.

  Ent?o, sem aviso, ela pegou a semente e a levou até os lábios. A girou dentro da boca por um momento, murmurando algo inaudível. O ar na loja pareceu ficar mais denso, quase pesado.

  Quando ela retirou a semente, seus olhos brilharam com um misto de divers?o e mistério.

  – Agora é sua vez. – Ela estendeu a m?o, oferecendo a semente a ele. – Coloque-a na boca.

  Nwyn engoliu em seco. Seu rosto esquentou levemente. Ele n?o p?de evitar o pensamento de que aquilo era, de certa forma, uma troca de saliva. Seu olhar oscilou entre a semente brilhando sob a luz da vela e os lábios carnudos da atendente.

  Ele hesitou por um momento, mas algo dentro dele exigia que continuasse. Com um movimento incerto, pegou a semente e a colocou na boca.

  A textura era estranha — lisa, quase sedosa, mas com um leve toque metálico, podia sentir o gosto da atendente, por algum motivo queria experimentar mais. Ele come?ou a girá-la com a língua, imitando o que ela fizera. O gosto era indefinível, uma mistura de do?ura e amargor, algo que parecia ao mesmo tempo frio e quente.

  O mundo ao seu redor escureceu abruptamente. O teto da loja sumiu, e em seu lugar um céu negro se abriu, girando como uma espiral. Ele sentiu como se estivesse sendo puxado para dentro dele, enquanto faíscas douradas piscavam ao seu redor. A sensa??o era de queda, de deslocamento, como se o tempo estivesse se retorcendo ao seu redor.

  A vis?o chegou.

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